MG - Um objecto de culto

National
September 1, 2014

É desde há 80 anos o MG uma marca personalizada, particularmente nos seus descapotáveis de dois lugares, tendo conseguido ao longo destas oito décadas manter-se como autêntico desportivo universal.

De facto, desde o velho “Old Number One”, passando por muitos outros, designadamente pelos vários modelos da série T dos anos 30 a 50, pelos A e B dos anos 50 e 60 e renascendo com o F dos anos 90, prolongado pelo novo TF do séc. XXI, tem mantido a MG no decorrer da sua longa história, automóveis de indiscutível carácter e personalidade.

Não sendo economicamente demasiado acessíveis face à múltipla oferta da concorrência estão também longe de ser particularmente “caros”, ou dispendiosos na sua manutenção. É curioso que não sendo, portanto muito acessíveis a qualquer bolsa, não são também a escolha para quem o automóvel é primordialmente um objecto de ostentação do suposto sucesso económico do seu proprietário.

Os amantes dos “Morris Garages” não devem, portanto, ser encaixáveis no simples parâmetro económico do velho pobre / novo pobre, versus velho rico / novo rico, ligando-se mais a sua aquisição à personalidade, desenho e história da marca. O MG é, pois, um objecto de culto, sendo justamente isto que o torna diferente da generalidade da concorrência.

Se a eterna juventude dos MG é mais conhecida e visível pelo desenho do seu exterior, da carroceria, um olhar mais atento pelos interiores, particularmente pelos “tablier”, confirmará aí também esse fio condutor do desenho marcante, independentemente da sua maior ou menor simplicidade, ou da qualidade dos materiais empregues.

Se nas “berlinas” são na generalidade estes painéis frontais muito cuidados, da grande e potente série S dos anos 30 até aos actuais e igualmente potentes ZT, passando pelos Y de meados do século e pelos Z (Magnette) que se lhes seguiram, é, no entanto, nos desportivos “descapotáveis”, pelo seu maior número, que é mais facilmente visível este cuidado nos interiores.

Dos simples, diferentes e belíssimos desenhos do “tablier” dos séries T, do TA ao TF, em paralelo com o do belo e requintado, entre outros, luxuoso SA, passou a este nível a MG por uma fase mais despreocupada nos A, Midget, B e mesmo no potente R com motor V8, embora aqui com o requinte da qualidade dos materiais, onde impera a madeira e a boa pele. Já no F se retomou uma clara preocupação com o desenho interior, onde, tal como acontecia no anterior R, tem a consola central, a par do “tablier”, um importante papel no desenho do conjunto e na envolvência do condutor.

Para além deste olhar mais detalhado sobre os MG, é da mais elementar justiça constatar que a sua consolidação ao longo do tempo na nossa memória colectiva, muito fica a dever à prestigiada carreira de todos os modelos da série T e ainda da fabulosa carreira do B, em todas as suas gamas, que, pese embora o seu longo período de produção, vendeu cerca de 520.000 exemplares, número nunca igualado por qualquer outro modelo da marca.

A vincada personalidade destes autênticos objectos de culto tem sido bem defendida e difundida pelo MG Club de Portugal, o primeiro clube monomarca do País, sendo também interessantemente expressa no recente artigo nº191 da revista RetroViseur, comemorativo dos 80 anos da MG, salientando o seu texto de abertura o conceito bem definidor deste espírito da marca: “Todos nós amamos os MG, porque todos ou quase todos foram desejáveis, acessíveis e simpáticos. Desportivos, fáceis de desfrutar e simples de compreender. Sem o ter verdadeiramente procurado, a MG inventou o automóvel desportivo universal”.

José Silva Carvalho

(Recebido no MGCP em Setembro de 2004)