Adivinhava-se um dia quente que se cumpriu bem ao estilo escalabitano, mas que não demoveu os Sócios de comparecerem na Quinta da Lagoalva de Cima que se estende pela margem sul do Tejo, a cerca de 2km da Vila de Alpiarça e a 11km de Santarém.
Enquanto se aguardava pela chegada da totalidade dos inscritos, Maria Antão, a jovem Técnica de Turismo, mimava-nos com café e bolinhos.
Devido à elevada temperatura que já se fazia sentir alterou-se a ordem dos pontos de visita e começou-se pela demonstração equestre em que um puro cavalo lusitano de cor ruça, cabeça convexa e boa conformação física nos provou porque é que o treino na disciplina de Ensino tem dado tão bons resultados nas competições. Foi evidente a perfeita ligação existente entre cavalo e cavaleiro que exerceu as ações de comando de uma forma quase impercetível.
Já perto da capela, foi tempo de entrar e perceber que ela e o palácio residencial foram edificados após investimentos que, iniciados em 9 de dezembro de 1776, levaram à abertura de uma vala e à construção de um dique em estacada com o intuito de minimizar os efeitos das cheias que o rio Tejo causava. Por essa altura ali habitava uma centena de pessoas e a missa rezava-se todos os domingos sendo que agora está apenas reservada a celebrações católicas da família Holstein Campilho. É consagrada a São Pedro e possui pinturas em tela cuja data se desconhece.
Dali seguimos para o Museu dos Carros de Cavalos que, inaugurado em 2022, exibe uma coleção de viaturas hipomóveis dos sécs XIX e XX bem como diversos arreios com especial destaque para aqueles que o 1º Duque de Palmela encomendou para as duas carruagens de gala com que a Duquesa numa e ele noutra participaram no cortejo da coroação da Rainha Vitória, em Londres, a 28 de junho de 1838. Embora fosse Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário e representasse pessoalmente a Rainha D. Maria II nessas cerimónias, fez questão de mandar construir as carruagens a expensas próprias na empresa londrina L. & C. Thrupp. Ambas se encontram expostas no Museu Nacional do Traje, sito na Quinta do Monteiro-Mor, antiga residência da família Palmela no Lumiar.
O almoço servido na Rota do Vinho com prova de vinhos integrada revelou que Pedro Pinhão, administrador e diretor de enologia, em parceria com o enólogo Luís Paulino, nos colocou na mesa Vinhos Lagoalva Branco, Rosé e Tinto que foram do agrado geral.
Foi durante o almoço que circulou de mão em mão mais uma produção oferecida pelo casal Vale Rêgo, desta vez relativa ao Jantar de Natal 2022, que muito agradecemos. E se lá fora o dia continuava quente, lá dentro a conversa foi calorosa e terminou, por sugestão de Silva Carvalho, com uma evocação à memória do Sócio Armando Valle Féria recentemente falecido.
Por último e antes de nos despedirmos de quem tão bem de nós tratou, foi tempo de fazer a Foto de Família com os carros na frente do imponente palácio setecentista que sempre preservou a sua feição de solar barroco-pombalino.
A HISTÓRIA da Quinta da Lagoalva de Cima remonta ao reinado de D. Sancho I que, em 1193, a doou à Ordem Militar de Santiago e que, posteriormente, D. Afonso II, em 1218, e a Bula Papal de Inocêncio IV, em 1245, reafirmaram.
Como Donataria ou Comenda, a propriedade passou por diversos membros da Dinastia de Avis e por outras famílias da nobreza como moeda de troca por favores políticos durante os períodos Filipino e da Restauração.
No reinado de D. João V, o Secretário do Conselho Ultramarino, Manuel Lopes de Lavre entrou na posse desta Comenda que acabou arrendada à família Lima-Mayer, no início do século XIX.
Com a revolução de 1820 os bens das ordens religiosas e militares foram nacionalizados ou postos à venda sendo que a Quinta da Lagoalva de Cima, em 1834, foi comprada por Henrique Teixeira de Sampayo, 1º Conde da Póvoa.
Em 1846, com o casamento da sua filha e herdeira, D. Maria Luisa Noronha de Sampayo, Condessa da Póvoa, com D. Domingos António Maria Pedro de Souza e Holstein, o futuro 2º Duque de Palmela, a propriedade passou a fazer parte do património da família Palmela, onde se encontra até hoje.
Estendendo-se por uma área plana de 660 hectares, inclui terrenos de lezíria e de charneca com montado, olival e vinha. Nela se encontra o palácio residencial com capela e rodeado por edifícios agrícolas, estrebarias, picadeiro e casas rurais destinadas a trabalhadores, com forno comunitário, barbearia, escola e ainda uma praça de touros.
Sucessivamente em poder de descendentes do 2° Duque de Palmeia, a Quinta da Lagoalva e as terras que lhe estão anexas, são hoje pertença da Sociedade Agrícola da Quinta da Lagoalva de Cima S.A.
A coudelaria teve as suas origens em finais do século XVIII, na Herdade da Apostiça, perto de Sesimbra, que foi transferida para a Quinta da Lagoalva, em 1848. No entanto, foi o 4º duque de Palmela e Marquês do Faial, Luís Borges Coutinho de Medeiros, que a partir de 1909 introduziu o toiro e desenvolveu a ganadaria ao comprar éguas na coudelaria do Duque de Toledo, o rei Alfonso XIII de Espanha.
A coleção de viaturas hipomóveis dos sécs. XIX e XX revela uma serie de inovações decorrentes da progressiva liberalização do transporte e dos avanços tecnológicos da Revolução Industrial, entre os quais se destacam: a estrutura da suspensão com molas de aço elípticas ou semielípticas; o rodado revestido a borracha para uma circulação mais rápida e cómoda nos arruamentos progressivamente revestidos a calçada ou no novo tipo de revestimento de Macadame (desenvolvido pelo Lord MacAdam); o surgimento de modelos variados de lanternas colocadas lateralmente aos bancos de cocheiro de forma a iluminar e sinalizar a presença da viatura; travões de calço às rodas traseiras acionados de diversos modos como alavanca, manivela ou volante; e campainhas a pé.
A construção destes veículos foi realizada por empresas de pendor industrial, que se aproximaram do fabrico em série, e que promoveram a criação de diversas tipologias relacionadas com a sua função na cidade e no campo, variando os nomes destes modelos conforme o país ou o fabricante.
Na sequência desta evolução surge o conceito de “marca” muitas vezes assinalada nos cubos dos rodados, permitindo assim publicitar a empresa como é o caso, nesta coleção, das viaturas construídas pela Binder de Paris, Jones Frères de Bruxelas e Thrupp & Maberly, Peter & Sons e [John] Ward de Londres.
(Fonte: áreas expositivas na Quinta da Lagoalva de Cima)